Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
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385. Beijo de Toque, afinal um beijo começa sempre pelo toque dos lábios de alguém em algo ou outro alguém. Se o toque de mãos vai da suavidade de uma simples festa a um brutal murro desferido sem piedade, já o tocar dos lábios dificilmente pode fugir do conceito de afeição, respeito, admiração, amizade ou amor. Trata-se do gesto único que a boca produz em interação com o que é exterior ao próprio corpo. Um cumprimento ou uma despedida, saudade ou desejo, amor ou sexo. Mesmo os beijos falsos ou negativos como o de Judas em Cristo fingem, imitam ou representam afeto. O verdadeiro beijo de toque é aquele em que o tato tem vida própria, pela proximidade dos cheiros e odores, pela troca de olhares, pelos sabores que chegam ao palato, pelos murmúrios que entram pelos ouvidos, por todos os sentidos juntos invadindo os sentimentos…
102. Beijo Dourado, aquele em que a fortuna não se encontra no valor do peso em quilates, transmitido entre duas pessoas no ato perfeito de um ósculo que brilha no escuro, mas sim na luz própria que possui, para aqueles que têm a riqueza perto do coração, junto da alma, na essência do sentir, no vinculo único dos sentimentos de partilha, dádiva e entrega. Assim se entende que a verdadeira ventura de um beijo dourado se descubra no brilho dos sorrisos, no calor do contacto dos lábios, no pestanejar dos olhos, na indescritível perceção de verdade, carinho e fantasia que, de uma vez só, passa em uníssono pelas mentes de ambos os seres ali fundidos pela união das bocas, da pele, da existência, enquanto a magia do toque os faz vibrar de genuína felicidade.
96. Beijo Desejado, almejado, querido, cobiçado e pretendido com ânsias de fome e apetites de vontade pela menina feita mulher, pela mulher de novo menina. Um beijo que, partindo da iniciativa masculina, transporta com ele a arte mágica da fêmea que deliberadamente nos cativou o espírito e nos conduziu durante todo o trajeto até à conclusão de tal beijar. Invadindo-nos primeiro os sentidos pela presença, pelo toque, pelo cheiro, pelo murmurar de sereia feiticeira, pelo sabor que antecipamos sem antes o termos sentido, e, depois, no final do cerco, já durante o ato, aprisionando-nos o coração e corpo num querer que termina num beijo, que se torna recíproco e irreversivelmente apaixonado.
65. Beijo Cardíaco que anseia por chegar ao destino com calor e ritmo acelerado. Sem alterações na textura, no sabor ou na intenção, porque leva com ele a alegria solidária de pequenos momentos partilhados num quotidiano etéreo. Um existir não menos verdadeiro ou sentido por a amizade provir e se ter desenvolvido, sem prévios laços de conhecimento físico. Ele nasce porque contém na essência a raiz de um rigor que se experimenta, a cada sorrir, nas palavras que se trocam, nos olhares que se inventam em entrelinhas sublimes de emoção. Torna-se cardíaco pela expectativa elaborada, numa qualquer rede social, entre dois seres que se desejam sem se verem, que se inventam num limbo abstrato que a dada altura vira realidade e existir. Beijo cardíaco, sente-se em crescendo, quase correndo à velocidade do pensamento na procura insana de um brilho intenso que, no encontro final, se o toque e o sentir acasalarem, parte das almas e desagua nos corações.