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Desabafos de um Vagabundo

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU! Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite

Beijo Digno

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99. Beijo Digno, aquele que nasce sempre que existe consentimento, verdade, sentimento, razão de ser, atração biunívoca, concordância, harmonia, vontade e querer. Um beijo que implica total respeito entre os intervenientes, porém, e pese embora que neste sentido lato possam existir imensos beijos enquadráveis na categoria, o beijo digno é, por excelência, um beijo vindo do cerne de quem beija e dado no âmago de quem o recebe. Tem o entusiasmo da primeira vez, nem que seja a milésima ocasião em que se entrega. Normalmente, segue a via inequívoca do amor, e, ao lado deste, é capaz de partilhar toda uma existência sem vacilar.

Beijo Desportivo

094 - desportivo.jpg

95. Beijo Desportivo, significando que tem de haver uma troca. Devendo ser partilhado entre risos, gargalhadas, e porque não durante uma bebida enquanto se assiste a um jogo da Liga dos Campeões, uma Copa do Mundo, ou uma simples troca de bola na rua, com muito palavreado pelo meio. É um beijo que carece de assistência, entregue com todo o carinho possível, completamente sincero e com um significado inabalavelmente puro no que concerne à raiz das intenções. Um beijo que festeja sempre a alegria, com desportivismo, mas principalmente pela vitória. Dado num dia onde o que desperta em Lisboa acorda em Madrid, o que se passa em S. Paulo desagua em Lisboa, o que acontece no mundo corre no cerne de nós mesmos, sem complicações, com verdade, perto das gentes, entre a multidão. Beijo desportivo, saudável, aplaudido, um eco da dama no âmago de um homem feito atleta.

Beijo Certeiro

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71. Beijo Certeiro, dado sem tabus ou sem receios, destemidamente, com frontalidade, alegria, vida e paixão. Um daqueles que se dá com confiança, com a noção exata do que se quer e do que se espera, porque julgamos saber que a face a que se destina será por certo uma graciosa anfitriã. Para o darmos a alguém, e enquanto ato voluntário, temos de ter a certeza de que, do outro lado, existem pelo menos sinais de empatia e afeição. Este pode tornar-se num beijo surpreendente de conquista atingindo uma dimensão única de verdade. Tudo num caminho evolutivo que se avalia como sem regresso. Só assim se provoca a fusão de almas, o inflamar dos corpos, a plenitude dos seres, a busca do apocalipse dos sentidos, a divina glória do êxtase na vulcânica explosão de mil orgasmos...

Poemas de um Haragano: Nos Caminhos da Flor – A Palavra

 

 

NOS CAMINHOS DA FLOR

 

           I

 

"A PALAVRA"

 

O bar ao fundo...

O motivo era a espera,

Uma espera com fim anunciado:

Ela não devia demorar!

 

Na sala cheia ninguém dava por mim,

Naquele canto destinado

A ilustres desconhecidos,

Como eu, aliás...

A multidão falava de quotidiano,

Falava de tudo,

Mesmo sem muito conseguir acrescentar...

 

Na minha mente

Uma só palavra parecia bailar

Entre a ponta da língua

E a garganta seca da cerveja

Já extinta no copo da imperial,

Havia algum tempo...

 

O bar ao fundo...

Uma só palavra...

E ela que tardava...

 

Pela milionésima primeira vez

Consultei o relógio,

Era verdade:

Os segundos continuavam a passar

No ritmo incontrolável

Do Tempo...

 

Levantei o olhar...

Ela sorriu para mim

Uma vez mais,

Como mil e uma vezes o fizera

Anteriormente...

 

E a palavra ganhou forma de novo,

E o Tempo parou,

E o bar pareceu vazio,

E a garganta húmida

Ganhou voz e lançou a palavra,

Pela milionésima segunda vez,

Pela ponta da língua:

 

Amo-te!

 

Haragano, O Etéreo in Nos Caminhos Da Flor

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Não Por Mim…

 

             IX

 

"NÃO POR MIM..."

 

Às vezes acho-me um ser híbrido...

Não importa se o sou

Mas o que penso...

É como se metade do que me constitui

Fosse sentir

E só a outra parte de mim

Fosse homem nato...

 

Sou, tal como o dia tem na noite

Uma outra face,

Um ser ambidestro

No que toca à mística

Representada pelo coração...

 

Um quase ser criança

Entre pudores que,

Nesta idade que tenho,

Já extintos deveriam estar.

 

Mas corre-me nas veias o devir...

A sensação última de atingir

A plenitude das coisas

Simples e pequenas

Que permanecem fiéis à memória

De quem realmente as viveu

Com existência.

 

Mas para que falo eu isto?

Que importância tem?

Ahhhhhhh...

 

Importa refletir,

Sentado nas escadas alvas e frias

Do mármore que edifica e marca

Cada registo do que sou,

Tentando sempre

Ir mais longe no pensar...

 

O que me move?

Ou, talvez, o que me comove?

Ou, ainda, o que me demove...?

 

É delicioso poder concluir que,

Em cada caso,

A chave é sempre a mesma:

Sentimentos!

Vindos de dentro,

Da arca radioativa de amor

À qual chamamos alma...

 

Sentimentos,

Desempacotados pelo espírito

Que nos torna humanos,

Postos a render

Para que possamos desfrutar,

A cada pegada impressa

No caminho da vida,

A realização do que deveríamos ser

Para que o existir tenha um propósito:

Sermos Felizes...

 

A demanda pela verdade

É um falso caminho se no final da linha

Não encontrarmos o amor!

 

É pela sensualidade dos corpos

Que a alma,

Feita espírito inventivo,

Nos mostra a excelência de uma espécie

Com milénios de existir:

O Ser Humano.

 

Um ser que não se reproduz apenas,

Mas que se funde em harmonia

Sempre que a longa busca pela alma gémea

Se conclui com êxito.

 

Ser sensual é ser-se humano

E ter com isso a esperança

De perpetuar a espécie

Por forma a poder gritar bem alto,

Aos quatro ventos:

É amor!...

 

Às vezes acho-me um ser híbrido...

Não pelo que sou

Mas pelo que os meus olhos captam

Do mundo a que chamamos evoluído...

Onde sensualidade

Se confunde com pornografia,

Tal como o bem se confunde com o mal...

 

Às vezes

Acho-me um ser híbrido,

Mas não por mim...

Não por mim... 

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Achas de um Vagabundo – Alguém

 

        II

 

"ALGUÉM"

 

Vagabundo dos Limbos...

Haragano, o Etéreo...

Jangada de palavras

Que flutuam pela net

Sem um rumo certo...

 

Sou

Aquilo que sempre fui:

Um sonhador!...

 

Sinto todas as lágrimas

Que choro em gotas de bits

E cascatas de bytes

Sem destino...

 

Sou

Um Vagabundo dos Limbos...

Sou

Haragano, o Etéreo...

 

Que mais posso almejar

Do reino das palavras?

Quero a verdade!

E isso é muito?

 

Rindo de mim mesmo

Vou ficando...

Quem verdade fala

A um haragano?

 

Quem, na jangada,

Tem rumo, destino?

Ah!...

Tem de haver alguém...

 

Haragano, O Etéreo in Achas para um Vagabundo

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Livro XXI - Mais Perto do Céu

 

 

 

         PARTE I

 

 PAISAGENS

 

 

                    I

 

 

“MAIS PERTO DO CÉU”

 

Quem não tem fantasias nesta vida?

Filmes não vividos, só sonhados…

Soluções impossíveis que parecem ter saída,

Raciocínios absurdos mas na perfeição elaborados…

Caminhos percorridos pela mente,

Porque foram por ela imaginados.

Sonhar uma viagem tão secretamente

Que não se encontram excertos registados…

 

E assim… descobri um ponto no infinito,

Preciso, definido, desvendado,

E vê-lo mais perto, cada vez,

Sem palavras usar, nem mero grito,

A pouco e pouco melhor sendo focado,

Redesenhando, com espantosa nitidez,

As formas, os traços, as imagens,

Que na memória recordam as paisagens…

 

Quem não teve fantasias nesta vida?

Quem não sentiu saudades mesmo que de fugida?

Foi destapado o esquecimento, o véu,

Que nos prova o quanto, de verdade,

Já vivemos plena felicidade,

Mais perto, bem mais perto do céu…

 

Haragano, o Etéreo in Portaló

(Gil Saraiva)

Poemas de um Haragano: Livro XX - Se...

 

 

"SE"

 

 

Ai!... Se este viver nosso, em nossa vida,

Tem real importância, na verdade;

Se amor se vive, em nós, em lealdade;

Se não te dás, tu mesmo, por vencida;

 

Se não pensas em breve despedida;

Se choras por, apenas, felicidade;

Se nunca foi, nem é, só caridade

O motivo que a mim te tem unida;

 

Se, para ti, Amor, o amor é arte;

Se, para ti, sou só eu a escultura

Que um certo artista, um dia, retalhou

 

Espero ser, e vir da tua parte,

A vida, o ter, o amor e a ternura,

Que de mim para sempre se apossou...

 

 

Haragano, O Etéreo in Livro de Um Amor

(Gil Saraiva)

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