Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
Serve este local para tornar visível o pensamento do último dos vagabundos que conheço: EU!
Aqui ficarão registados pensamentos, crónicas, poemas, piadas, quadros, enfim, tudo o que a imaginação me permite
410. Beijo de Vida, pulsante da energia humana com que é vibrantemente entregue. Oferecê-lo requer emoção, carinho, paixão pelo ato e pelo momento. Requer interesse e acreditar na recetividade de quem o recebe, acolhe e ainda por cima demonstra a satisfação pela escolha, pelo ato e, já agora, pelo mensageiro. Beijar é simples, mas beijar com a garra de imprimir em alguém uma nova memória que fique registada no arquivo das recordações e não esquecer, já requer arte, sinceridade, carinho e muita vontade, força e total dedicação. Beijo de vida, nasce com volúpia, cresce com vigor, amadurece com ternura.
394. Beijo de Uma Vida. Existem alturas no decorrer da nossa existência em que, muitas vezes sem sabermos bem como ou porquê, acontece algo de extraordinário e absolutamente incomparável com tudo o que experimentámos anteriormente, seja a nível profissional, espiritual, religioso, ou, mesmo até emocional, e é neste último campo que se enquadra o beijo de uma vida. Ele chega sem aviso prévio e marca quem nele intervém de forma permanente e inesquecível, um dia, cuja data jamais esqueceremos. Beijamos a pessoa certa e sentimos que somos senhores do universo, donos da felicidade, guardiões da paixão e do amor e tudo porque, aquele momento que durou segundos, nos fez ferver o sangue nas veias, nos fez mudar por completo a maneira como olhamos os outros, nos fez sentir gente e nos fez saber que existir faz sentido. Beijo de uma vida para que a vida se resuma àquele instante que fica cá dentro de nós.
116. Beijo de Escorpião, vindo diretamente do signo dos que nascem em pleno outono, sobre a sombra dourada dos plátanos, qual antecâmara do inverno despido e frio que se antecipa, mas belo nos tons fortes e quentes do manto de folhas, qual cama sensual iluminada pela chegada dos crepúsculos de esplendor outonal onde o pôr-do-sol ganha rasgos de beleza e génio inigualáveis. Porém, o romantismo pode dar lugar a um beijo de agito, de movimento, de vida, criado nas furnas do entusiasmo, ardente, dramático, exacerbado e dominador, único no magnetismo como atrai quem busca, forte, apelativo e sexual. Beijo de Escorpião, possessivo, controlador, invadindo quem beija, da boca, dos lábios, da língua ao corpo inteiro, marcante, sedutor e sempre extremamente sexual.
109. Beijo Enciclopédico, sempre longo, demorando deleitadas perpetuidades. Imaginem cada letra da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira como um beijo… seguidamente contando as letras e verificando que estamos na casa dos muitos milhões facilmente se conclui da impossibilidade de tanto beijo entregar. Nem mesmo durante toda uma vida por muito que essa vida durasse. Porém, se a tarefa fosse realizável, rapidamente se transformaria o beijar num pesadelo tenebroso e interminável. Só que o beijo enciclopédico faz algo bem diferente. Habilmente transforma cada letra, palavra, parágrafo e página, volume após volume, numa imensa dimensão do nosso querer, do nosso sentir para, no final, tudo resumir num só beijo. Assim se chega ao beijo de uma vida, de rendição absoluta, perdição eterna, de atração fatal, raro de acontecer, mas supremo quando é descoberto.
105. Beijo Egípcio, dado de perfil, sob a tutela do rei dos deuses do Egito fundido com o deus do Sol, Ámon-Rá. Um beijar de olhos quase fechados, num rasgar que apenas nos deixa ver contornes, apelando aos outros sentidos, onde o olfato ganha força, o tato, dimensão e o paladar significado. Beijo entregue a 38 graus à sombra, num calor que vem de dentro, mas que nos refresca e bem dispõe, qual oásis, no meio da densa areia do nosso imenso, infindável e piramidal quotidiano. Um ato que se arquiva no sarcófago sagrado da memória, para sempre mumificado com fragrâncias de oxalá, suspiros de souvenir e contactos recriados em cada recordar. Beijo de abrigo onde ganhamos a energia necessária para prosseguir antes de continuarmos essa viagem única a que chamamos vida.
82. Beijo de Conto de Fadas, de fábula ou rábula, de história de reis e de rainhas, beijo de qualidades encantadas, de fazer corar vizinhas, de despertar quem dorme como que "para ver a banda passar cantando coisas de amor" como diz o trovador Chico Buarque. Um beijo para a eternidade, pois que se instala na memória para ser contado repetidamente aos serões, de olho de lágrima que ri, até aos confins da idade. Ele é o ato de uma vida, aquele que nos faz sonhar desesperadamente na ânsia de um possível "encore" que nunca chega, mas sempre se adivinha.
72. Beijo Cigano, roubado em noite sem Lua pelas raias da vida, cabelos ao vento brandindo florestas ocultas no breu. Beijo apanhado, quase ilegal, escondido de todos, família ou lar… Nada mais importa do que esse beijar. Beijar vagabundo de um haragano, que alazão selvagem não se deixa domar. Beijar cegamente num beijo profundo, que vem do instinto, que vem do amar. Beijo apropriado feito destino à luz da fogueira por entre sombras ocultas. Uma só maneira de chegar primeiro ao beijo que a alma parece cantar. Beijo lançado por cartas sem rumo que traçam destinos sem os traçar. Beijo feito de sinais de fumo que um beijo assim é de contrabando, é forte, é intenso, é de recordar, pode ser meigo, mas não é brando, pode ser vida, mas pode matar...
71. Beijo Certeiro, dado sem tabus ou sem receios, destemidamente, com frontalidade, alegria, vida e paixão. Um daqueles que se dá com confiança, com a noção exata do que se quer e do que se espera, porque julgamos saber que a face a que se destina será por certo uma graciosa anfitriã. Para o darmos a alguém, e enquanto ato voluntário, temos de ter a certeza de que, do outro lado, existem pelo menos sinais de empatia e afeição. Este pode tornar-se num beijo surpreendente de conquista atingindo uma dimensão única de verdade. Tudo num caminho evolutivo que se avalia como sem regresso. Só assim se provoca a fusão de almas, o inflamar dos corpos, a plenitude dos seres, a busca do apocalipse dos sentidos, a divina glória do êxtase na vulcânica explosão de mil orgasmos...
55. Beijo Borboleta, dado quase de fugida, num curto espaço de tempo, mas intenso, forte, maravilhosamente ilustrador de emoções e partilha de almas. Sublime na aparência, nobre nas intenções, adulto na forma, exemplar na harmonia e na naturalidade como se entrega, mas, para além disso, espontâneo, completamente independente de obrigações, status, e outros "ões" com que normalmente nos regemos em sociedade. Cintilante pelo vibrar das pálpebras em movimentos cíclicos, nos rostos unidos de tão próximos, trocando olhares por entre a oscilação ritmada das pestanas quais asas de borboletas esvoaçando rumo à felicidade. Livre porque partilhado por vontade das partes na fusão do todo, e tão belo e perfeito como a borboleta, mas, como ela, com uma vida curta, porque os momentos de perfeição sempre nos parecem breves, pequenos, mas deliciosos.